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Igreja de Santa Maria de Ciladas -

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Igreja de Santa Maria de Ciladas

A fundação do templo remonta a épocas muito antigas, como curado da metrópole eborense e sofreu três profundas obras de remodelação: a primeira, no tempo do bispo-infante-cardeal D. Afonso, que lhe determinou a visitação de 1534; a segunda, no ano de 1748, a instâncias do prior Manuel Rodrigues da Silva (que lhe fez, de raiz, a nave da abóbada e os anexos) e a última, em 1838, por acusar, na altura, grande ruína.

Anexa à freguesia de São Romão desde 1871, está localizada na Herdade de Carvão. O decreto arquiepiscopal de 8 de Dezembro de 1966, homologou a decisão anterior nos domínios eclesiásticos e civil. Esta decisão originou o êxodo da maioria dos habitantes para a sede da freguesia, São Romão, da qual dista oito quilómetros. A situação originou o abandono e a ruina de todos os espaços edificados, nomeadamente a Igreja, muito profanada e a Escola Primária.

Este território foi habitado desde tempos imemoriais, facto confirmado pelos achados arqueológicos de antas, cerâmica e túmulos luso-romanos, sobretudo no Monte dos Coroados, que foi fortificado, na Aboboreira, Monte Velho, Padrãozinho, Herdade da Sancha, Monte dos Campos e Queimado, Torre do Cabedal e Pomar de el-Rei.

Relativamente ao Padrãozinho, parte do espólio arqueológico encontrado está exposto na Coleção de Arqueologia do Museu-Biblioteca da Casa de Bragança, no Castelo de Vila Viçosa.

A descrição dos espaços edificados de Ciladas foi efetuada nos anos 70 do século XX, quando ainda não tinha atingido o estado de ruína atual. Este trabalho foi desenvolvido pelo investigador calipolense Túlio Espanca, no âmbito do “Inventário Artístico de Portugal”.

A Igreja de Santa Maria de Ciladas tem o que resta da sua frontaria lançada ao ocidente. Tinha um discreto cruzeiro de pedra marmórea defronte, assente em peanha de alvenaria. O corpo externo da nave e do casario envolvente, hoje bastante degradado, pertence às empreitadas de 1748. Com frontão triangular, aparentemente inacabado e portal marmóreo, do tipo joanino, com verga recurva e emoldurada, encosta, na ilharga do norte a cavaleiro da capela baptismal, ao campanário duplo, de volutas barrocas que foi, no século passado, acrescido de outro, onde se colocou o sino da paróquia (desaparecido em data incerta), de bronze fundido, que tinha a seguinte inscrição:

 

HESTE SINO HE DE N.ª S.ª DAS SILADAS 1749

Sotoposta, existia uma sineta anepígrafa, para chamar a santos, também desaparecida em data incerta.

A via sacra, que era de pedra regional, insculturada com emblemas do Calvário, encontrava-se parcialmente embebida nos alçados, provável subsistência do edifício anterior. Da reformação quinhentista e do primeiro terço do século XVI era a abside, de planta quadrangular, assente em terreno roqueiro, de grossa alvenaria, amassada de taipa e protegida, angularmente, por duas torrinhas cilíndricas, bem típicas da arquitetura religiosa do aro metropolitano dos reinados de D. Manuel I e D. João III. No extradorso, entre as duas cruzes, existia um painel cerâmico de quatro azulejos monocromos, figurado pelas Almas do Purgatório, assim como outro, menor e do mesmo monograma de P.N.A.M., afixado sobre uma janelinha da face sul da Igreja.

Neste lado e construído a expensas de 53 paroquianos da freguesia, em 1838, assistidos pelo Padre António Maria Palma, fez-se o cemitério público, que importou em 73140 réis. A sua entrada corre emparelhada ao adro, com murete decorado por grande urnas ornamentais e portal de xisto, de verga e cornijamento duplo, já desaparecido. Poderia ser um vestígio do primeiro edifício.

Servindo de embasamento da dependência exterior, correndo na linha da capela-mor, hoje em ruínas, estava um fragmento de túmulo cupiforme, luso-romano, de mármore branco, muito mutilado na tabela axial da legenda latina, achado que confirma a civilização milenária de toda esta zona.

A nave, muito degradada e profanada, foi fruto da reforma estrutural de meados do século XVIII. Tinha teto de meio canhão e alçados, completamente lisos, com vestígios de escaiolas no rodapé. Conservava, até meados dos século XX, da fábrica anterior, os cancelos estrigilados, de ferro forjado do púlpito e a pia baptismal circular, de mármore branco, bem lavrada no estilo tardo-manuelino, rebordada por cordão contínuo, palmas e ranhuras, preanunciando a arte renascença. A capela é quadrada, com cobertura cupular abatida, assente em trompas simples. O chão, hoje inexistente, era pavimentado por placas marmóreas, sepulcrais, que se encontravam numeradas.

A cabeceira da Igreja for preservada na obra setecentista e manteve até data incerta os altares antigos, colaterais, das consagrações de Nossa Senhora do Rosário e das Almas Santas. Os quatro altares antigos desaparecidos davam em 1751 pelos nomes de Senhor Jesus, São Pedro, Almas e Santo António. As suas cinco Irmandades designavam-se de Santo António, Nossa Senhora do Rosário, Senhor Jesus, Almas Santas, São Pedro e Santo António .

O primeiro, do Evangelho, era do século XVII e mantinha um retábulo desse período, em talha dourada e do estilo clássico, em nicho envidraçado onde se venerava a titular, de roca. Na banqueta estavam duas imagens de madeira estofada: Santo António e Nossa Senhora dos Milagres. Estas peças forma levadas para a Igreja Paroquial de São Romão.

O Altar da Almas foi refeito na reforma de 1748, em talha dourada e do estilo rococó, com meias pilastras de capulhos, palmetas e volutas e no respaldo, tinha a imagem de Cristo Crucificado, de lenho e certamente anterior. Do retábulo, nada resta e a imagem foi transferida para a Igreja da sede de freguesia. Existia também uma maquineta de vidros, que deveria ser uma obra de 1838, aquando da última grande reforma do edifício. Nela se guardavam duas pequenas esculturas de madeira, de feição popular, também transferidas para São Romão: Santo António de Lisboa e São Mamede. No painel alusivo à confraria subsistia parcialmente encaixilhado em talha policroma na cima-fronte do arco mestre da abside; de cabeça ovulada e pintado sobre tela, a representação clássica do Arcanjo São Miguel, envolvido pelas alminhas do Purgatório pedindo alívio das suas penas. Tinha características acentuadamente seiscentistas, devendo ser uma obra de artista regional.

Do primeiro terço do século XVI e dos alvores do reinado de D. João III era a capela-mor, que se abria em arco pleno moldurado, de mármore, traçada em planta quadrangular, com abóbada de artesãos polinervados, de aresta viva e bocetes circulares com decoração fitomórfica, de alvenaria. Da reforma de oitocentos e sem valor artístico eram as pinturas de tinta de água, que revestiam o conjunto e de que hoje apenas existem vestígios pontuais.

O retábulo dourado que preenchia a ousia era constituído por ornatos vegetalistas, vestígio arcaico do século XVIII. Tinha larga folhagem, assente em fundo lacado de vermelho e azul, ainda dentro da tradição barroca, de carácter populista. Mais antigo deveria ser o sacrário, de baixa renascença, entalhado por pilastras de caneluras e porta esculpida com o Cristo da Ressurreição.

No nicho axial, de arco redondo, envidraçado, venerava-se a imagem de Nossa Senhora de Ciladas, escultura de roca e vestes bordadas a ouro e matiz, antiga, mas vulgar. Na banqueta, além do jogo de castiçais e crucifixo de madeira dourada, expunham-se duas curiosas imagens de lenho estofado, já citadas em 1758: São Pedro Papa, majestoso e de merecimento escultórico e São João Baptista, hierático e repintado, do século XVII. Estas peças foram igualmente transferidas para a Igreja Paroquial de São Romão.

Raros e poucos vulgares eram os frontais que guarneciam os três altares da Igreja, feitos de guadamecim do tipo de Córdova, policromados e dourados, distribuídos os laterais em dois e o principal em quatro altos devidamente protegidos por barras bordadas do mesmo cabedal, da época de D. João V.

Não existiam muitos mais objetos descritos por Túlio Espana, mas devem-se destacar seis tocheiros de madeira marmoreados e com figurinhas das alminhas metidas em elipses, que pertenceram à extinta irmandade das Almas e na sacristia estavam alguns andores processionais, um paramenteiro e candeeiro das trevas, pintado de vermelho, com dois corpos adosselados, utilizável nas cerimónias da Semana Santa.

 

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

ESPANCA, Túlio, Inventário Artístico de Portugal – Distrito de Évora, Zona Sul, vol. I, Academia Nacional de Belas Artes, Lisboa, 1978.






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