Na obra “Inventário Artístico de Portugal”, iniciada a partir de 1966 pelo investigador calipolense Túlio Espanca, é efetuada a descrição pormenorizada do património arquitetónico e artístico da Freguesia de Ciladas- São Romão, com a chancela da Academia Nacional de Belas-Artes. É com base nesse trabalho que foi desenvolvida esta investigação, analisando as principais mudanças ocorridas sobretudo no que concerne ao património integrado da Igreja Paroquial de São Romão.
A aldeia que dista onze quilómetros da sede do concelho e se alcança pela estrada vicinal para Juromenha, nasceu à sombra tutelar da capela curada de São Romão, já existente em 1534, data em que se realizou no Bispado do Cardeal-Infante D. Afonso de Portugal, a sua primeira visitação ordinária pelo vigário da vara de Vila Viçosa, Padre António Vaz, sendo cura por eleição Vasco Afonso.
Foi nesta época que o edifício recebeu melhoramentos gerais, como o ladrilhamento da ousia, lajedo no corpo da nave e restauro do alpendre, além de receber, até ao Natal desse ano, uma estante de painha de chamar a santos e um par de castiçais de estanho. Ficaram responsáveis por estas obras os fregueses Garcia Gonçalves, Fernão Lourenço, Bartolomeu Fernandes, Rui Vaz e Brás Róiz.
Esse primeiro edifício religioso, que era uma comenda da ordem de Avis, naturalmente pequeno templete rural de arte gótica, desapareceu com a construção do atual, em período incerto do século XVII, altura em que a Misericórdia de Vila Viçosa fundou juridicamente a aldeia, aforando em courelas a Herdade de São Romão, onde existia a ermida, parcelamento extensível pela terra do Colmeal e por dois quinhões da Herdade de António de Figueiredo, que nos começos do século XVIII pertencia a Fernando Vaz Cêpa. Os aforamentos da Santa Casa terminaram em 1840, em benefício social e económico o da pequena lavoura, em particular.
Nesta freguesia encontraram-se em escavações fortuitas diversos materiais de valor arqueológico, cerâmica romana, sepulturas lajeadas, pedras esculpidas e outros utensílios das antigas civilizações peninsulares. Assinalaram-se, principalmente, nos Castelos, na Casa da Moura (vestígios de arquitetura gótica), na Mourinha, no Fatalão e no Castro da Briôa, junto do Ribeiro do Furadouro, em notável elevação de terreno com vestígios de muralhas.
No seu aro encontra-se também a Ponte da Ribeira da Asseca, chamada vulgarmente do Ratinho, por se localizar na herdade com essa designação e que se fez de novo nas primeiras décadas do século XX, com a aplicação de seis arcadas marmóreas de formato redondo, provenientes do claustro setecentista do antigo Convento de São Paulo de Vila Viçosa (antiga SOFAL – Sociedade Fabril Alentejana), numa obra dirigida pelos Serviços Hidráulicos.
IGREJA PAROQUIAL
O edifício revela uma obra concebida sem preocupações artísticas de vulto, tendo sido melhorada em 1832 com a verba de 164 810 réis. No ano de 1844, fizeram-se novas portas, que custaram 15 150 réis.
Construída em adro murado, sensivelmente no extremo ocidental da povoação, com domínio da paisagem agradável e peculiar do sítio, oferece na sua mancha de alvura imaculada a fisionomia clássica da arquitetura rural alentejana, de empenas desencontradas, telhado de duas águas e frontaria de remate triangular, sem alpendres, angularmente iluminada, a sul, por dois campanários emparelhados, singelos, de fruste alvenaria tocada de escaiolas.
Tem sinos de bronze, anepígrafos, tendo sido benzido o maior em 1839. Na espadana principal foi colocado, no ano de 1932 e na face posterior, um relógio de horas, com grande mostrador cilíndrico, em mármore. Sobranceiro, no murete do adro, ergue-se discreto cruzeiro de pedra assente em peanha de volutas estilizadas, que foi restaurado em data incerta.
Internamente é constituída por pequena planta de nave retangular, com coro de grade de madeira e cobertura de berço, caiado de branco, oferecendo uma imagem de profunda simplicidade. Possui igualmente um baptistério de pia boleada com bojo de gomos simplificados e taça para água benta, lavrada em forma de vieira. Ambas as peças são de mármore branco, sendo a última típica do século XVIII. Destacam-se ainda dois altares laterais com os alçados junto da boca da capela-mor, concebidos em alvenaria e de arcos plenos, das consagrações antigas de Nossa Senhora do Rosário (hoje Nossa Senhora de Fátima, ao Evangelho e das Almas, à Epistola.
A imagem titular do primeiro, que estava em nicho envidraçado, transitou para o presbitério, vendo-se na banqueta e proveniente do mesmo. Nesta data, encontravam-se aqui as esculturas de Santo António e São Caetano, ambas de madeira estofada, do século XVIII.
O Altar das Almas Santas tinha um o painel de tela pintada, da cena das alminhas do Purgatório e o Crucificado, em relevo, assim como a imagem de São Miguel, também do século XVIII. Na banqueta, estavam outras imagens de madeira antigas e de pequena dimensão, representando São Sebastião, provavelmente do século XVI e a Virgem com o Menino, de conceção posterior.
O púlpito é constituído por grades de lenho pintado, com duas pinturas de tela, ao alto, representando a Sagrada Família e São Francisco de Assis, que foram transferidas para o acesso à sacristia.
A capela-mor mantêm a traça original e os ornamentos arquitetónicos de uma profunda reforma ocorrida no final do século XVIII, início do século XIX. Tem planta quadrada e retábulo de alvenaria marmoreada, colunelos coríntios e frontão com enrolamento, conservando, no nicho central, a escultura do padroeiro – São Romão Abade. Trata-se de uma peça hierática, de volumes pesados e de madeira muito repintada, aparentemente de meados do século XVIII.
Colateralmente e em edículas envidraçadas, expunham-se as imagens de Nossa Senhora do Rosário e Nossa Senhora de Guadalupe, de roca, antigas. O tecto está decorado com pinturas de tinta de água, de estilo neoclássico, das habituais albarradas de flores, grinaldas e medalhão central, representando o cordeiro pascal, que foram recentemente restauradas.
O mais importante objeto litúrgico identificado é o Cálice, de prata branca, de ornamentos gravados e base circular e nó discoide, anelado. Trata-se de uma peça tardo-renascentista de cerca de 1600.
A Igreja foi alvo de uma intervenção profunda no interior da nave, com a introdução de um revestimento azulejar por volta de 1980. Também foram introduzidas algumas imagens, com destaque para Nossa Senhora de Fátima.
Autoria – Tiago Passão Salgueiro
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
Cód. CXXXIII/ 1-1 fl.111, Biblioteca Pública de Évora
Memórias Paroquiais de 1758
ESPANCA, Padre Joaquim, Compêndio de Notícias de Vila Viçosa, pp 54-57
ESPANCA, Túlio, Inventário Artístico de Portugal – Distrito de Évora, Zona Sul, vol. I, Academia Nacional de Belas Artes, Lisboa, 1978.
LOURO, Padre Silva, Ciladas e São Romão, pp. 21-39